“Monsieur Parolles, nascestes sob uma estrela caridosa.”

“Monsieur Parolles, nascestes sob uma estrela caridosa.”
“Sob a influência de Marte.”
“Foi o que pensei, sob Marte.”
“E, por que sob Marte?”
“As guerras vos mantêm tão por baixo que deveis ter nascido sob Marte.”
“Quando estava predominante.”
“Penso antes que estivesse retrógrado.”
“Por que pensais assim?”
“Recuais sempre quando lutais.”

(W. Shakespeare, “Tudo Está Bem Quando Acaba Bem”, I, II)

“Primum non nocere”

Hipócrates, circa 430 a.C., sugere aos médicos, em sua obra “Epidemia”, parágrafo 12, primeiro livro:

“Pratique duas coisas ao lidar com doenças: ajude ou não prejudique o paciente.” –
(Primum non nocere – “Em primeiro lugar, não provoque nenhum dano.”)

‘O Museu Hermético’

“Segundo uma lei atribuída à Pitágoras, o espectro de todas as possibilidades terrenas está associado ao número quatro. O quinto elemento aristotélico, a sutil quintessência, só se encontra pois no céu superior do fogo divino. O objetivo de todos os alquimistas era trazer este quinto elemento para a terra através das repetidas transmutações que o seu trabalho implicava. O que se traduziu na frequente destilação do álcool, o espírito do vinho, ou na concepção da luz divina presente no sal.
No seu percurso, era necessário ao alquimista transpor o círculo mais excêntrico do mundo inferior, que se afasta do Paraíso, o anel serpentino de Saturno.
Saturno é identificado como o deus grego do tempo, Cronos, e vencê-lo significa a ruptura feita no tempo transitório e efêmero e o retorno à idade de ouro da eterna juventude e da benevolência divina, que permite a fusão num todo unificado. Para que este sonho se cumpra, é necessário o elixir do rejuvenescimento, o “ouro bebível”, cujo conhecimento se supõe ter penetrado na Arábia medieval através da China e da Índia.
O texto grego mais antigo de teor alquimista, sob o título programático de Physica kai Mystika (Das coisas naturais e das coisas ocultas), subdivide já a Opus Magnum em quatro fases, de acordo com as cores que apresentam: o Negro (Nigredo), o Branco (Albedo), o Amarelo (Citrinitas) e o Vermelho (Rubedo). Esta classificação perdurou, de um modo geral, ao longo de toda a história da alquimia, com variantes pouco significativas. Posteriormente, surgiram algumas subdivisões com divergências mais marcadas entre si, em relação à “astronomia inferior”, como a alquimia também é designada, tendo como base o número dos planetas-metais ou os doze signos do Zodíaco.
J. Pernety refere em seu Dictionnaire Mytho-Hermétique (Paris, 1787) as seguintes fases:
1. Calcinatio – oxidação – Carneiro
2. Congelatio – cristalização – Touro
3. Fixatio – fixação – Gêmeos
4. Solutio – dissolução – Caranguejo
5. Digestio – decomposição – Leão
6. Distillatio – separação do sólido do líquido – Virgem
7. Sublimatio – aperfeiçoamento através da sublimação – Balança
8. Separatio – separação, decomposição – Escorpião
9. Ceratio – fixação num estado semelhante ao da cera – Sagitário
10. Fermentatio – fermentação – Capricórnio
11. Multiplicatio – multiplicação – Aquário
12. Projectio – espargir o lapis pulverizado sobre os metais comuns – Peixes

O referido texto antigo sobre alquimia do século I-II a.C. foi divulgado por um discípulo de Demócrito, sob o seu nome. O próprio Demócrito reconduzia todos os fenômenos da percepção sensorial, como sejam as cores, aos movimentos e às combinações mutáveis das partículas mais pequenas indissolúveis, a que chamava átomos, partículas “indivisíveis”. esta realidade atomista por detrás da fachada de um universo de aparências ilusórias era de uma profundidade e de um secretismo inconcebíveis.”

(extraído de Alquimia e MisticismoO Museu Hermético – de Alexander Roob – Taschen Ed.)