Castro Alves – O Navio Negreiro, Tragédia no Mar (VI)

“Existe um povo que a bandeira empresta
Pr’a cobrir tanta infâmia e cobardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!…
Silêncio!… Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto…

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança…
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!…
…Mas é infâmia de mais… Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo…
Andrada! Arranca este pendão dos ares!
Colombo! Fecha a porta de teus mares!”

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *