A história das crianças envenenadas pelo agrotóxico da Syngenta
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A história do envenenamento de crianças pelo agrotóxico da Syngenta em Goiás
O mono-motor sobrevoou, às 9h20, do dia 03 de maio de 2013, a escola pública “São José do Pontal”, localizada no Projeto de Assentamento “Pontal dos Buritis”, que abriga 150 famílias, às margens da Rodovia GO-174, no município de Rio Verde (GO), situada a 130 km da área urbana.
No dia 17, foi descoberto que sete casos necessitariam de acompanhamento médico especializado, por terem sido diagnosticados problemas nos rins e fígados das crianças (Foto: Reprodução)
Num período de 20 minutos, o piloto sobrevoou por cinco vezes a escola, em especial a quadra de concreto, molhando com o pesticida “Engeo Pleno”, da empresa Syngenta, 60 crianças que ali se encontravam.
Os alunos, com idade entre 4 a 16 anos, que naquele momento lanchavam a céu aberto, engoliram o composto denominado piretroide (classe toxicidade 3 e 4), sem conhecimento perigo no primeiro instante.
Em seguida, todos já afetados pelo veneno sentiram, no primeiro momento, coceira na pele, falta de ar, tonturas e problemas na visão. Logo após, várias crianças desmaiaram, enquanto outras tentaram se livrar do pesticida, se lavando com água e sabão. Os professores pediram ajuda por telefone.
A maioria das vitimas foi levada para a cidade mais próxima, Montevidio, localizada a 30 km. Dessas, 28 ficaram internadas no hospital municipal, vomitando, com a boca seca e sentindo tonturas permanentes.
Alguns alunos foram socorridos pelos próprios pais, que os transferiram para a Unidade do Pronto Atendimento – UPA, na cidade de Rio Verde, tendo recebido alta no dia 5 de maio de 2013.
No dia 17 deste mês, as crianças retornaram ao UPA Rio Verde e, no dia seguinte, foi descoberto que sete casos necessitariam de acompanhamento médico especializado, por terem sido diagnosticados problemas nos rins e nos fígados.
As denúncias foram registradas junto a Agência Goiana de Defesa Agropecuária – AGRODEFESA, no IBAMA e na Policia Civil, cujas instituições estão investigando o caso, que não se trata de fato isolado, conforme informa o Delegado Danilo Carvalho, responsável pelo 8º Distrito Policial, e considera o acidente como crime federal. O piloto e a empresa responsável pela aeronave (Aviação Agrícola Agrotex LTDA) foram multados.
O engenheiro agrônomo da Cooperativa Comigo, responsável pelo receituário, não se manifestou sobre o fato.
Uma equipe multidisciplinar, formada por toxicólogos, médicos, sanitarista, psicólogos, biólogos, dentre outros, irá acompanhar as vítimas e suas eventuais sequelas.
Os agrotóxicos
O Engeo Pleno é um inseticida da Syngenta e é constituído por uma mistura de lambda cialortrina e tiametoxan. O último é um neonicotinóide que está sendo proibido na Europa devido à associação com o colapso das colmeias.
O tiametoxam está na lista de agrotóxicos (junto com imidacloprido,Clotianidina e Fipronil) em reavaliação ambiental pelo IBAMA, para fins de revisão do registro, como publicado num comunicado no DOU de 19 de julho de 2012, por serem altamente tóxicos para abelhas. No mesmo comunicado que indicou a reavaliação, havia a indicação de suspensão imediata de pulverização aérea.
No entanto, posteriormente foi publicado no DOU de 03 de outubro de 20,13 o cancelamento da suspensão da pulverização aérea anunciada em julho. No DOU de 04 de janeito deste ano o MAPA publica Instrução Normativa onde permite, até o fim da reavaliação ambiental desses quatro venenos, a pulverização desses agrotóxicos para as culturas de algodão, soja, cana-de-açúcar, arroz e trigo, proibindo-a somente no período de floração.
Pelo que tudo indica, o tiametoxam, do ponto de vista ambiental, já poderia ter sido proibido e, pelo menos pelo principio da precaução, não deveria mais ser utilizado por pulverização aérea, podendo até ter evitado o acidente relatado. Além do que sua pulverização aérea não ser permitida para lavouras de milho, muito menos é recomendada para “controle de pulgão”.
Do ponto de vista da saúde a lambda-cialotrina está associada a distúrbios neuromotores, como mostrado em estudo com ratos (Dossie Abrasco parte 1). Já o tiametoxam pode causar ansiedade e alterar os níveis da acetilcolinesterase (Behavioral and biochemical effects of neonicotinoid thiamethoxam on the cholinergic system in rats. Rodrigues et al, 2010). O tiametoxam também mostrou efeitos hepatotóxicos e tumores de fígado em camundongos, mas não em ratos. Segundo os autores do estudo o modo de ação não é relevante para seres humanos (Case Study: Weight of Evidence Evaluation of the Human Health Relevance of Thiamethoxam-Related Mouse Liver Tumors. Pastoor et al, 2005).